segunda-feira, 26 de junho de 2017

Rua

A rua escuta

os lamentos dos cães

e das mães sem leite

para amamentar

a prole

 

as famílias que têm as calçadas

como sala de estar

 

 o tilintar dos sinos da Catedral

o beijo de enamorados atrás das árvores

 

as enchentes carregando os pertences

daqueles que  quase nada possuem

 
 

o pneu das bicicletas roubadas

que passeiam em frente à casa dos

que foram assaltados

 

as moedas  caindo no bueiro e nunca

mais voltando para o menino que

pretendia comprar a sua tão desejada

revista em quadrinhos

 

a pulseira da moça que por distração

deixou cair 

 

os coturnos dos policiais

armados de ódio agredindo

servidores públicos que lutavam

pelos seus salários

 

as rodas de skates

que  tentam driblar o trânsito e se esquecem

de que a vida é preciosa

 

o pisotear de bebês aprendendo a andar

 

o barulho de folhas secas

 

o rio transbordando de bronquite

e cuspindo o lixo das cidades



Eliana Pichinine

2 comentários:

  1. Forte, contundente e triste. Porém, verdadeiro. Quisera as ruas fossem mais liricamente poéticas! Gostei muito dessa sua poesia denúncia.

    ResponderExcluir