você** é andorinha sabiá bem-te-vi e todo tipo de canto que alegra o meu coração Eliana Pichinine ** minha filha canta como um passarinho.

avistei o arco-íris que piscava naquela tarde de domingo sonolenta e ainda deitada fiz do peitoril da janela o meu horizonte lágrimas aquareláveis surgiram sorri Eliana Pichinine

                            transversal

empregabilidade

neoliberalismo

população de rua

saneamento básico

água potável

transporte coletivo decente

saúde
trabalho infantil

desemprego
preço do gás de cozinha
violência doméstica
feminicídio

machismo
piadas racistas e  LGBTfóbicas

vulnerabilidade social

insegurança alimentar   

merenda e educação pública

capacitismo

discurso meritocrático

empreendedorismo
lado B do trabalho remoto

direitos trabalhistas

aposentadoria

população indígena

desmatamento

roubos

segurança pública

pandemia COVID – 19

subfinanciamento do SUS

vacinas

entregadores (delivery)

bicicletas e acidente de trânsito
horizonte
flores nos jardins
crianças sorrindo
idosos descansando

arte 

    vida
trevo de quatro folhas

                                                      Eliana Pichinine

 desmorono

                           e/ou

deságuo 

                            nem 

sempre 

na                               mesma                ordem 

                        Eliana Pichinine 

unha

 

o tempo é quem decide

quando a mancha de sangue pisado

sob a minha unha desaparecerá 

e como não costumo usar esmalte colorido 

volta e meia me deparo com a lembrança

daquela aflição 

mas ainda bem 

aos poucos

 junto com o crescimento  da unha 

vai sumindo a potência daquele instante

 tomara que ocorra assim também

 com os fantasmas que persigo

 e que por vezes me perseguem 

 na via de mão dupla que é o viver 

                                         Eliana Pichinine 

os pedregulhos 

que carreguei

em bolsos imaginários 

pareciam vivos 

e os sorrisos 

desenhados

em meu corpo

também 

                   Eliana Pichinine 

 às vezes

é preciso

ultrapassar as grades

conforme as flores 

que encontrei pelo caminho 

Eliana Pichinine 

                quando

                duvido 

                 divido

o 

todo

em diversas

partes 

                     Eliana Pichinine 

 ser o todo 

ser o  todo

 coração em disparada

 pula   nas mãos 

  da euforia 

Eliana Pichinine 

 faminto 

engoliu a comida e a esperança 

saboreou  o raro instante  

com os olhos fechados 

as muletas  descansando no chão 

tentaram segurar o choro 

mas não conseguiram 

                                       Eliana Pichinine 

 andando por algumas ruas

passei por quatro homens 

que estavam dormindo 

nas calçadas 

apenas um deles 

era um homem branco 

os  outros eram pretos 

o que a escravidão tem a ver com isso? 

Eliana Pichinine 

comemoração do dia de qual criança? 

ela brinca ou trabalha?

onde mora? 

já comeu hoje ? 

a sede é constante ? 

tem acesso ao amor? 

sorriu em algum momento do dia? 

e o frio ? 

nas mãos tem arma ou livro? 

e o que carrega no coração? 

Eliana Pichinine 

 bem cedo 

andando pelas ruas hoje

observei que das quatro

pessoas dormindo 

em calçadas 

três eram homens pretos 

o que a escravidão tem a ver com isso? 

Eliana Pichinine 

o cabelo cresceu                                                                                            

porém 

a paciência para certas coisas

                                    nem tanto 

os óculos  embaçam

mas as risadas são  límpidas 

sapatos e joanetes
lutam pelo mesmo espaço

e as palmilhas resolvem o impasse

as cicatrizes      

os desejos e os fios grisalhos

me acompanham

 e quando o nó que fica na garganta  

                                     consegue se libertar 

o alívio pousa nas asas do instante

 

               Eliana Pichinine 

 

 

 naquela época 

quase tudo 

era silencioso

exceto

o

olhar 

Eliana Pichinine 

 saudade:

ponte 

ou 

hiato?

Eliana Pichinine 

 a manta feita de fios

já deixa o seu recado: 

a vida é entrelaçada

o aumento do combustível
a precarização da saúde
da educação e do transporte coletivo
a carestia dos alimentos
o aumento da violência
o crescente desemprego

e a miséria dando o seu
recado em cada olhar pedinte

Eliana Pichinine

 

 

 

poema em ordem alfabética (I)

Angela  Davis
bell hooks
Chimamanda Ngozi Adichie
Conceição Evaristo

Djamila Ribeiro
Judith Butler
Lélia Gonzales
Manuela D’ Ávila
Márcia Tiburi
Silvia Federici

 

    (felizmente a lista é infindável)

 

 

Eliana Pichinine

 a tristeza? 

coloquei 

no cangote

e fui passear 

Eliana Pichinine 

 

relacionamento

 sem cortes

no

corpo

e

n`alma

é um sonho ou uma realidade próxima?

 depende .... 

Eliana Pichinine

namoro

 amor romântico 

não dá espaço 

asfixia a completude 

por aqui 

nada de cara metade

Eliana Pichinine 

         

 em mim

tenho diversos remendos
mas não coleciono

respeito o prazo de validade

de cada um  deles

  Eliana Pichinine 

                            após implosões 

                            seguiu repleta

                               de partes 

                           inteiramente  

                              genuínas 

                         Eliana Pichinine 

 os livros são plantações 

que me acolhem

em qualquer estação do ano

Eliana Pichinine

 o medo

fica à espreita

querendo me deter

nem sabe 

que a dona coragem  

está prontinha para aparecer

Eliana Pichinine 

 desligo a TV

tentando calar  o meu choro

 fico assustada

mais um jovem negro

é assassinado na cidade

do meu Rio de Janeiro

estatística crescente 

quem pagará 

o enterro do sorriso

desta família?

Eliana Pichinine 

lá em casa com as gatinhas o amor acontece numa lambida na perna da gente ou no pedido de cafuné elas decidem quando e como sabem dar limites aos humanos adoro isso Eliana Pichinine

 inconstante

fica comigo
várias vezes
e de repente
nem chega perto

outro dia
juntinhos
dormimos e acordamos
na mesma hora

quem conhece
este ritmo
sabe do que estou falando:

fogacho

Eliana Pichinine

 escolhas

(a) paguei

o preço?

Eliana Pichinine 

 dentro e fora

quando a 

a casquinha 

da ferida

está nascendo

cresce junto

uma alegria

do tamanho 

de um bonde 

a cicatriz 

chega 

por mais 

que demore 

Eliana Pichinine 

vai sobrepor 

Enviado do meu iPhone

 

no fundo

do penhasco

deixei

peles e

carcaças

que não 

mais cabiam

e despida 

mergulhei

no instante 

Eliana Pichinine 

 rima descarada 

  

a misoginia 

está  na piada de cada dia 

e no sorrisinho de quem concorda 

                                        Eliana Pichinine 

 mulher

e nem sequer

um minuto 

de sossego?

e nem sequer

um espaço 

para ser?

mulher 

é quem assim 

se considera!

                                     Eliana Pichinine 

a insônia é ardilosa

e tem vida própria 

escolhe temperos

para manter-se de pé 

parece que

faz poção mágica 

sabe aproveitar as brechas

da minha distração 

e dá o bote 

quando percebo

já estou envolvida 

com suas histórias 

e indagações 

mas tem horas

que eu  saio da reta

respiro nuvens 

fecho 

as portas 

da ansiedade 

e durmo 

em cima dela 

Eliana Pichinine

os corpos 

são de verdade

e o fim daquelas

vidas também 

a guerra mora  no cotidiano 

a paz 

é propaganda  enganosa? 

Eliana Pichinine 

 arritmia 

às vezes 

o coração 

fica atrapalhado 

Eliana Pichinine 

desta vez cheguei
bem perto

aos poucos
vou me desacostumando
a não me abraçar 

Eliana Pichinine 

tentei fotografar 

o voo do passarinho 

não consegui 

faltou asa 

do lado de cá 

Eliana Pichinine 

 meus

ruídos 

quando

consigo

cutuco

com 

sorrisos

Eliana Pichinine 

 desejo a delicadeza 

da brisa 

e a audácia do vento 

não necessariamente 

na mesma ordem 

Eliana Pichinine 

              gesto

 oco 

                não 

a  b  a  r  c  a

Eliana Pichinine 

 diversidade 

o corpo

é um mapa 

genuíno 

não venha
decidir 
sobre como 
o meu 

ou qualquer

outro deveria ser 

as lutas  

pela sobrevivência 
de cada corpo
só quem 
vive e resiste

saberá  dizer 

Eliana Pichinine

 eu sei que não dará tempo

de conhecer todas as 

esquinas que surgem

em mim

algumas delas

consegui refazer

e desfrutar 

da escolha

somos um mapa- múndi

que também precisa

de aconchego 

por isso 

eu pergunto:

moro comigo ? 

Eliana Pichinine 

 

nudez


foi logo
mostrando
estrofes
e versos 


Eliana Pichinine 

tirou a roupa
e fez um poema 
o poema é o nude 

 

sorriso  

 

amor explícito

no

c

a

n

t

o 

da boca

 

Eliana  Pichinine 

 

 

Livre de vírus. www.avg.com.

 

os
sentimentos
eram
abissais

mas
os pés

continuaram
na beira
do rio

Eliana Pichinine

    sopro na nuca 

    desfaz a calmaria

     dos lençóis 

                   Eliana Pichinine 

 com olhar de ocaso 

tentou ser horizonte 

Eliana Pichinine 



infância

 

ainda me lembro 

daquele dia 

a janela aberta 

e a  brisa 

perto de mim 

 

deitada no sofá 

empurrando 

o dente de leite

 

não sabia 

o quanto 

esse momento 

seria eternizado 

 

Eliana Pichinine 

 

 novo ano

ele chegou

só no calendário 

ou está de braço

dado comigo ?

Eliana Pichinine