quarta-feira, 31 de agosto de 2016

parei 

de 

pedir

asas

quero 

aprender


andar

Cobra criada (fajuta)



Logo 

que 

a

danada

da recaída

chegou

voltei

pro

jardim

de 

infância

do 

amor

Eliana Pichinine

Filhos


um menino

e

uma menina:

flores

do

meu

jardim

Eliana Pichinine

saudade




quando
a lembrança
finca os pés...
Eliana Pichinine
pelo avesso

a perspectiva 

é outra

vértebras e órgãos

aparecem com suas cores

as sinapses são explícitas

sentem o lado de fora

conversam com o vento

e deitam na poeira dos dias

(tudo em carne viva e atenta)

Bem-te-vis


versos

empoleirados

cantavam

sob a luz

do teu olhar

Eliana Pichinine
certas palavras

não sabem dizer


  nem sempre 

o cacho é de uva

o canto é de sereia

o laço é de fita

o beijo é de Klimt

o olhar é de Medusa 

o retrato é de Dorian Gray



  delimitei o perímetro do dia

acordei com o pé direito (do quarto)

olhando pra mim

fui logo dizendo que sou canhota



o meu coração

é tátil

não encostes

o teu olhar

minha pele sedenta

nadou em tuas mãos

Eliana Pichinine
revi minhas folhagens

deixando o outono brincar

Eliana Pichinine

Ponto de Interrogação


mudar

o foco

ajuda 

na aparição

de outros sinais

Trocando de lugar




chutei

o chão

(pensou o balde)


  até certo ponto

até certa vírgula

tudo parecia caminhar

um

poema

sobre


outro:

nós dois

adjetivos serão poucos

diante do substantivo

amor que sinto

por ti

Eliana Pichinine


chão 

quieto

escuta

o silêncio

balançando

a cadeira
tentei 

acomodar

as pernas

do poema

no sofá

da recordação

Eliana Pichinine

Queimadas



floresta
 desencantada

sente

cheiro
 de 
fumaça


in: PICHININE,Eliana- Macaréu, Editora Vidráguas, Porto Alegre, 2015.


se essa rua fosse minha

eu mandava pintar

suaves lembranças

do nosso ronronar

Devagar


sem pressa

apenas

indo

e

vindo

sem euforia

apenas 

indo

e

vindo

com paladar

apurado

apenas 

indo

e

vindo

com livro 

na mão

e pés

no telhado

apenas

indo

vindo

e rindo