Meu pai

Ele usava bigode e barba.
Depois de um tempo raspava.
Indagava às filhas quando deixar crescer novamente.
Aconteceu assim durante a minha infância.
No fundo era ele: barbudo ou não.
Meu querido pai.
Saudade bateu forte. 

Eliana Pichinine

 algo floresceu 

quis ser pétala

Eliana Pichinine

Poeira

Senta

tenho tanta coisa pra te contar.

Estava aqui agorinha pensando

e passou por mim um rastro de luz.

Sabe

quando você abre a janela,

a luz entra e mostra a poeira

dançando como bailarina?

Foi

assim que senti cá dentro.

Sou repleta de luz e de inúmeras partículas.

Tenho pintas, manchas e pingos de experiências pelo caminho que trilhei.

Chego a ser rouxinol alguns dias e um verdadeiro espantalho quando fico parada deixando os corvos atingirem os fios do pensamento. E logo percebo: os maiores algozes estão dentro  de mim.  

Posso 

ser tanto mais. Todos podem.

Então por que apenas passo, quando quero ultrapassar ?

E quando pulo, deveria engatinhar?

Não

decifrar talvez seja uma possível resposta, e sentir seja um dos caminhos.

Pronto. Acho que agora já tenho o esboço do texto que escreverei.

Boa noite, espelho!

Eliana Pichinine

Sonhos

 

amorfos

ou não

existem

no olhar

de quem insiste

Eliana Pichinine

meio clichê

dois pombinhos

na janela apreciando o luar

trocam juras de amor

atire o primeiro verso

quem nunca viveu um clichê

Eliana Pichinine

Escolhas

alguns

sem apreço pelo sabor

contentam-se com o insosso

não lambem os dedos da vida

 

outros

raspam a panela

e saboreiam  as vísceras de cada momento

 

Eliana Pichinine

 

 

 

Tarzan

 

olhou pra dentro de si

 

bateu no peito

chacoalhou a multidão adormecida

e sorriu

 

Eliana Pichinine

Aquarela

 

desafiou a tristeza

plantando cores

no rosto daquele dia

 

Eliana Pichinine