A rua escuta
os lamentos dos cães
e das mães sem leite
para amamentar
a prole
as famílias que têm as calçadas
como sala de estar
o tilintar dos sinos da Catedral
o beijo de enamorados atrás das árvores
as enchentes carregando os pertences
daqueles que quase nada possuem
o pneu das bicicletas roubadas
que passeiam em frente à casa dos
que foram assaltados
as moedas caindo no bueiro e nunca
mais voltando para o menino que
pretendia comprar a sua tão desejada
revista em quadrinhos
a pulseira da moça que por distração
deixou cair
os coturnos dos policiais
armados de ódio agredindo
servidores públicos que lutavam
pelos seus salários
as rodas de skates
que tentam driblar o trânsito e se esquecem
de que a vida é preciosa
o pisotear de bebês aprendendo a andar
o barulho de folhas secas
o rio transbordando de bronquite
e cuspindo o lixo das cidades
Eliana Pichinine