Guardar uma coisa
não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda
coisa alguma.
Em cofre perde-se
a coisa à vista.
Guardar uma coisa é
olhá-la, fitá-la, mirá-la
por admirá-la, isto é,
iluminá-la ou ser por ela
iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é,
fazer vigília por ela, isto é, velar por ela,
isto é, estar acordando por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda
Por isso melhor se guarda
o vôo de um pássaro
do que pássaros sem vôos.
Por isso se escreve,
por isso se diz,
por isso se publica,
por isso se declara e declama
um poema:
Para guardá-lo.
Para que ele, por sua vez,
guarde o que guarda.
Guarde o que quer
que guarda um poema.
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que quer guardar.
Antonio Cícero
Amo esse poema, Lili! Me arrepio e tudo com ele... porque fala de coisas tão fundamentais, essenciais. Quem não enxerga isso não compreende quase nada do que realmente importa.
ResponderExcluirEu compreendo pouco ainda, me esforço, mas tenho o desejo sincero de "guardar" de forma mais bonita aquilo que passa por mim.
Abraço grandão e que bom que postou esse poema aqui!
Marielza,
ResponderExcluirTambém estou tentando aprimorar o que "guardo".
A sua sensibilidade é algo que deve ser guardado sempre...
Obrigada pela visita!
Bjs!
Eliana,
ResponderExcluirMuito lindo este poema do Antonio Cícero.
"Por isso se escreve,
por isso se diz,
por isso se publica,
por isso se declara e declama
um poema:
Para guardá-lo."
Quando nos expomos, nos tornamos nus em nossa poesia, somos capazes de guardar sua essência; a nossa essência.
bjs
Nelson
Nelson,
ResponderExcluirConcordo. Este espaço é essencial para esta troca de essências !
bjs!
Pessoal,
ResponderExcluirNão posso deixar de ressaltar que foi através da crônica "Guardar" da escritora Martha Medeiros que conheci este poema maravilhoso!
Vide:
MEDEIROS, Martha- Trem-bala,Porto Alegre,L&PM, 2010.