quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Avesso

 
 Certas
  palavras
enrubesceram

[certos]
olhares
virginais

Certos
olhares
enrubesceram

[certas]
palavras
virginais
16/8/10 & 26/8/10
Eliana Pichinine

sábado, 17 de dezembro de 2011

Infinito Particular

 

Eis o melhor e o pior de mim

O meu termômetro, o meu quilate

Vem, cara, me retrate

Não é impossível

Eu não sou difícil de ler

Faça sua parte

Eu sou daqui, eu não sou de Marte

Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim

Só não se perca ao entrar

No meu infinito particular

Em alguns instantes

Sou pequenina e também gigante

Vem, cara, se declara

O mundo é portátil

Pra quem não tem nada a esconder

Olha minha cara

É só mistério, não tem segredo

Vem cá, não tenha medo

A água é potável

Daqui você pode beber

Só não se perca ao entrar

No meu infinito particular

Marisa Monte

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Foi um lindo romance



 

Foi um lindo romance, reconheço,
Lindo como jóia de alto preço,
Este romance que não escrevi.
Foi síntese de todos os romances,
Com todas as cores e todas as nuances
Dos sonhos que até hoje construí.

Meu romance tem páginas sublimes
De renúncias, heroísmos, traições e crimes;
Tem palavras de estranha suavidade;
Tem gritos de revolta e de ansiedade,
Resumo do desejo e da ambição -;
Tem confissões de amor sussurradas com calma,
Tem o tom muito da alma e do coração.

Se alguém pudesse ler encontraria
Toda meiguice, toda ternura, toda covardia
Das palavras de amor que eu não te disse.

Se alguém pudesse ler encontraria escrita
Numa página de ouro esta cruel verdade:
Tu foste para mim esta coisa tão bonita
Que todos chamam de felicidade.
Foi um lindo romance, reconheço,
Por isso de joelhos agradeço
Me deixares vivê-lo até o fim
Anônimo e feliz... Com toda discrição.
Sem a glória de ter ouvido sim,
Nem a mágoa de ter ouvido não.



Mário Lago



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Minha vida foi isso o tempo todo


Recomeçar ainda que partido;
Refazer o horizonte a cada passo;
Buscar razões no que perdeu sentido;
Mover-me sempre, embora o pouco espaço;

Compreender todas as vozes mudas,
Perdido entre o não dito e o não pensado;
Procurar no vazio alguma ajuda;
Repisar mil caminhos já pisados;

Falar sem nunca ter ouvido um grito
De aplauso, de protesto ou xingamento;
Pensar que era de céu o chão de lodo;

Os pés na terra, os olhos no infinito.
Sonhando estar lá longe o meu momento...
Minha vida foi isso o tempo todo.


Mario Lago
http://www.mariolago.com.br

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um Poema de Amor



    
Não sei onde estás, se falas
ou se apenas olhas o horizonte,
que pode ser apenas o de uma
parede de quarto. Mas sei que
uma sombra se demora contigo,
quando me pergunto onde estás:
uma inquietação que atravessa
o espaço entre mim e ti, e
te rouba as certezas de hoje,
como a mim me dá este poema.

Nuno Júdice, in "O Movimento do Mundo"